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Pesca Noturna minimiza mortalidade de Tartarugas







Desde 1990 o Projeto Tamar atua em pesquisas com o foco principal de minimizar a mortalidade de tartarugas, muitas das pesquisas são realizadas ao lado de pescadores parceiros
Patrícia Rosseto


Biólogos descobriram que a pescaria pequena, realizada com redes próximas às pedras é a que causa a maior mortalidade das tartarugas verdes. Segundo os pesquisadores do Projeto Tamar apontam Ubatuba como área de alimentação da espécie de tartarugas verdes, a Chelonia Mydas. Elas ficam durante um período no local, em torno das pedras, para alimentar-se de algas, depois retornam para sua atividade migratória. De acordo com o biólogo Henrique Becker, coordenador técnico do Projeto Tamar, o destino delas é sempre áreas mais quentes, como Espirito Santo, Fernando de Noronha, Caribe, Venezuela e até Ascencion, que fica no meio do caminho entre o Brasil e o continente africano. Becker acrecenta que nestes 20 anos puderam levantar alguns dados ainda inexistentes nas pesquisas anteriores da vida da tartaruga.
“Quando se enrosca neste tipo de rede, a tartaruga não consegue subir para respirar e acaba morrendo afogada”, explica o biólogo.
Outro dado levantado é que elas se alimentam durante o dia. “A partir desta hipótese entendemos que a pesca diurna coloca em risco o animal. Logo, quanto menor for a quantidade de redes colocadas durante o dia, menor a mortalidade das tartarugas. Porém, como não entendemos de pesca, atuamos em parceria com pescadores, onde pudemos analisar melhor o comportamento das tartarugas e a relação delas com a atividade pesqueira”, explica.
Segundo Becker, o experimento já foi concluído e comprovado, daqui para frente a ideia é conversar e detectar outros pontos a partir da percepção dos pescadores. “O projeto não é tão simples, precisamos combinar a versão da pesquisa e entender a situação de pesca. O nosso consenso é não pescar de dia, sabemos também que o pescado a noite é melhor que o diurno. Mas, não é tão simples assim”, afirma.
De acordo com o biólogo, quando a pesca é mais distante, há riscos de navegação, principalmente por que há atuação noturna. “Tradicionalmente, o caiçara coloca a rede de noite e retira de manhã, são os pescadores não tradicionais que colocam as redes de dia”, esclarece. Becker acrescenta que existe também a preocupação por parte dos pescadores de perder a localização da rede. “Tirar a rede e outro acabar por usar aquele local. É um universo diverso, cada praia tem sua maneira”, declara.
Para ele os resultados da pesquisas são eficientes a partir do momento que se adequa à pratica, sendo coerente entre os pescadores. “Por exemplo, o defeso do camarão não tem consenso com a realidade, cada região atua de uma maneira e tem seu ambiente especial e diferente. A lei se posiciona em âmbito federal. Temos que ter mais cautela, regionalizar antes de qualquer oficialização”, previne. Ele explica que não se pode aplicar modelos prontos onde há demandas e peculiaridades de cada lugar. “Cada lugar muda ambiente, a técnica de trabalho, especialidades, precisa haver cuidados antes de propor mudanças”, aponta.
Para Fábio Igor, 41 anos, pescador artesanal na praia do Lázaro e participante da pesquisa, algumas proibições são saudáveis, pois evita o prejuízo das gerações futuras. O pescador é parceiro do Tamar desde 1997, que, de acordo com ele, ajuda com cursos, reuniões e a ter maior conhecimento de políticas públicas que envolvem a pesca e o meio ambiente.
De acordo com Fábio, colocar em prática a pesca noturna não gera prejuízo nem na dinâmica do trabalho e nem financeiramente. “Só inverte o processo para alguns, coloca-se a rede de noite e retira-se de dia”, explica.
O pescador acredita que este é um trabalho mitigador, que respeita e mantém as atividades pesqueiras. Ele ressalta que o policiamento ambiental tem dificuldade de chegar a todos os locais, por isso a importância da conscientização. “O resultado prático da conscientização é maior que o imposto por lei”, opina.
Becker enfatiza que o projeto não é uma solução para salvar todas as tartarugas em qualquer lugar do mundo. “É um projeto específico e próximo a realidade de Ubatuba. Não dá para propor a quem pesca em alto mar, por exemplo, nem é a mesma rede usada. Serve para a pesca artesanal costeira com rede de emalhe”, finaliza.








Foto: Patrícia Rosseto

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