ECONORTE


Enfrentamento ao crack

““Estão levando um problema social aos ‘palanques’, enquanto a solução ideal está ficando cada vez mais distante””


Selma Almeida

Sempre desconfiei desta entrada dos governos no enfrentamento ao crack. Político preocupado com viciados? Tinha minhas dúvidas, afinal, craqueiro não elege ninguém. Assim como presos, moradores de rua e outros tantos miseráveis que nunca tiveram a atenção devida das autoridades. Nestes casos o que os governos mais gostam de fazer e “varrer o problema para debaixo do tapete”.
Quando se trata de indigentes, eles usam do poder para com uma van ou perua, levá-los aos municípios vizinhos. Esta prática de muitas assistências públicas sociais é famosa e conhecida. Não enfrenta o problema, apenas mascara, tira de um lugar ou os esconde da população. São pessoas que não irão fazer a diferença em uma eleição, muitos nem título de eleitor tem mais e, melhor ou pior, por sua característica alienada, nunca cairão na “lábia” de um político.
Geralmente eles há muito tempo já perderam a identidade social e são claramente marginalizados da sociedade, vivendo na margem de tal. E por tudo isso acima que, infelizmente, sempre fiquei reticente quanto ao anúncio dos governos federal e estadual no enfrentamento do problema. Na teoria e no papel parecia uma boa solução e uma luz no final do túnel desta classe, mas a prática mostrou outra bem diferente.
O problema enfrentado em São Paulo já virou até guerra. A maior cidade do Estado, a capital, onde existem mais viciados deste mal, tratou o problema da pior maneira possível. Resolveram expulsá-los na força policial onde estavam em suas cracolândias, local inclusive existente em várias cidades do interior paulista, conforme mostrou uma reportagem recente na Folha de S.Paulo. E veio a reação. Em matéria de ontem, no mesmo jornal, mostrou que os viciados estão “se armando”, ou seja, se uniram para enfrentar a polícia. É claro que a situação já entrou por caminhos errados e se desviou do principal propósito.
Qualquer um já percebeu que estes viciados em crack têm algo em comum. Eles preferem ficar juntos na vida deprimente das ruas fazendo uso de sua droga. Há uma certa “harmonia”, do jeito deles e entre eles. Este fato deveria ser o ponto de partida para se trabalhar na questão psicológica e social dos usuários. Ao contrário de dispersá-los com brutalidade policial.
E esta ação infeliz em São Paulo como não poderia deixar de ser, já virou bate boca político entre oposição e situação. Os tucanos (PSDB) defendem a ação dos governos estadual e municipal e obviamente já colocam a culpa do ponto em que chegou aos petistas que não impediram o avanço do crack (como se eles se estivessem no poder fariam diferente).
O negócio que deveria ser de união de todos os governos para combater um mal do século, um problema real de saúde pública, já que estes viciados são portadores de várias doenças, como tuberculose, aids, hepatite, além das mulheres viciadas estarem engravidando livremente com esta vida (conforme reportagem também na Folha), os políticos resolveram (em ano eleitoral, claro) atacar um ao outro. Estão levando um problema social aos “palanques”, enquanto a solução ideal está ficando cada vez mais distante. 

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