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27/1/2012 10:11Eduardo Cesar diz que crise e comparações com o primeiro mandato tornaram essa gestão mais difícil, mas que cidade teve problemas superados

Segundo o prefeito, atuar no segundo mandato é um desafio grande, uma vez que ele acaba sendo comparado com ele mesmo na gestão anterior, apesar da nova realidade

Ricardo Hiar

O prefeito de Ubatuba, Eduardo César (DEM), fez um balanço dos seus três anos a frente da administração do município. Atualmente, ele é o único prefeito reeleito no Litoral Norte de São Paulo. Em entrevista exclusiva ao Imprensa Livre, Eduardo César fez uma avaliação de seu trabalho, dos ganhos e perdas ocorridos nesse período nos diversos setores. O prefeito ainda comentou os impasses políticos que enfrentou nos últimos meses, assim como falou dos avanços ocorridos na saúde, educação e turismo. Ele ainda abordou temas, como a destinação do lixo, que na visão dele, precisam ser trabalhados em conjunto com os demais prefeitos da região.

Imprensa Livre (IL) – De que forma o senhor avalia os três primeiros anos de seu segundo mandato a frente da prefeitura de Ubatuba?

Eduardo César (EC) – Foram três anos difíceis, em que enfrentamos vários tipos de dificuldades, política, administrativa e financeira. O mais interessante é que findando esses três anos, temos hoje o maior e melhor grupo político da cidade. Temos condições de fazer até 100% de vereadores já na próxima eleição. Ainda estamos com uma situação econômica estável, tranquila e não devemos nada. O município está equilibrado e em questão administrativa estamos enxutos, na busca da excelência. O que não conseguimos fazer na gestão passada, estamos conseguindo nessa. Outra questão que atrapalhou bastante essa gestão foi a comparação. Quando você é reeleito, as pessoas comparam você, com você mesmo. Esses três anos são comparados com os três anos anteriores. Mas quem avalia com critério percebe uma cidade muito melhor. E essa comparação não deve ser feita somente entre esses mandatos. Se for feito desde a emancipação política da cidade, será possível ver que Ubatuba está muito melhor.

IL – Mas então o senhor acha que o mandato de reeleição é mais difícil?

EC – É como um atleta. Quando ele bate um recorde, todo mundo espera que ele supere esse recorde depois. Mas quando ele quebrou o primeiro recorde ele já fez todo o esforço do mundo, então para o segundo, ele continua sendo a mesma pessoa, só que a vantagem é que tem a experiência do primeiro. É o mesmo aqui na administração da cidade. É mais difícil ser comparado com você mesmo do que com outro. Quando você é reeleito, o sinal mostra que a população considera que você fez um bom trabalho. Mas a condição do novo mandato é outra, assim como as condições econômicas, do país.
Peguei uma cidade que ficou 30 anos sem muitas mudanças, com a avenida principal que estava sucateada, sem Corpo de Bombeiros, Centro de Convenções, Teatro, sem área para shows, carente de praças, quadras esportivas, que ainda não sabia o que era sediar jogos regionais, jogos dos idosos. Comecei a fazer tudo isso, então muita coisa apareceu no primeiro mandato. Ainda conseguimos fazer um congelamento, ou seja, ter a cidade que menos inchou e que mais preservou a mata atlântica. Então, toda a soma dos últimos anos do mandato passado refletiu nesses três primeiros anos. A crise (nacional) no início dessa gestão também afetou Ubatuba, mas teve prefeitura que nem conseguia pagar a folha de pagamento. A região ainda conta com repasses da Petrobras, diferente de Ubatuba. Ela não recebe o que a Eletrobrás paga pela Usina de Angra até Paraty e não recebe o que a Petrobras paga até Caraguá. Ubatuba é uma das cidades mais bonitas e boas para se morar, mas tem essas dificuldades econômicas. Nosso orçamento é o menor da região e sofremos com isso.

IL – Além dessas comparações, qual foi o principal desafio que o senhor enfrentou até agora?

EC – É inevitável dizer aqui que alguns escândalos aconteceram e que nós conseguimos reverter a situação. Não tínhamos nenhum envolvimento com essas coisas, que foram arquitetadas por um movimento político. Saímos de cabeça erguida provando que não tínhamos ligação com as coisas que estavam falando, porém, isso sempre traz um desgaste político.

IL – O senhor considera então que pedido de seu afastamento e de
alguns vereadores da cidade foram articulações políticas?


EC – Eu afirmo que havia uma questão pessoal de um promotor com o prefeito. E o que fazia a oposição? A todo instante plantava um fato novo. E o promotor, movido por sua ira, pedia o afastamento. Foram vários pedidos de afastamento, até esse que o juiz resolver dar, mas felizmente os superiores resolveram cancelar antes que eu fosse afastado. Os poderes devem viver em harmonia. Quando esses poderes trabalham juntos, quem ganha é a população.

IL – Se nós fossemos elencar os grandes feitos desse mandato, quais o senhor apontaria como os mais importantes?

EC – O principal é a sustentabilidade. Nós somos um governo voltado para o meio ambiente. Quando vemos no Rio de Janeiro e Santa Catarina os acidentes naturais que aconteceram, dá para pensar que se os prefeitos dessas cidades tivessem agido como nós agimos por aqui, isso não teria acontecido e vidas teriam sido poupadas. Nosso respeito com o meio ambiente fez com que chegássemos a ter 100% de praias próprias. Tiramos pessoas de áreas de risco para colocar em outras casas construídas com recursos do município. Coibimos o crescimento dessas áreas. Tem gente que reclama dizendo que o prefeito não gosta de pobre, mas não é nada disso. O prefeito gosta do ser humano, por isso não deixo eles correrem esse risco. Então acho que o maior tesouro que temos em mãos para deixar é o respeito ao meio ambiente. Esse é o maior legado.

IL – E como essas ações de preservação são realizadas?

EC – Ocorrem de várias formas. O congelamento, por exemplo, fazemos não deixando ninguém mais construir em área de risco. Se ainda assim alguma casa for construída, a prefeitura vai e demoli. É claro, sempre respeitando a vida. Quando consegue fazer isso, as pessoas conseguem entender. Então, as ações administrativas de Ubatuba fizeram com que hoje as pessoas entendam que se fizerem algo contra o meio ambiente por aqui, não chegarão a lugar nenhum.

IL – Como está a questão de habitação em Ubatuba?

EC – Nós temos um déficit de cerca de 3 mil habitações. Estão saindo algumas casas do CDHU, estamos fazendo outras com recursos próprios da cidade, ou seja, usando todos os recursos que temos para construção de habitação. Também temos o trabalho de regularização. Muitas pessoas moram de forma clandestina, mas não em locais de risco. Nesse caso, até tem conseguido fazer a regularização do espaço e devolver a dignidade a essas pessoas. Hoje a grande dificuldade no Litoral todo são as áreas. Aí existe a questão da verticalização, mas eu, desde a época da Câmara, sou contra. Acho que verticalizar uma cidade como Ubatuba, você corre o risco de perder o maior charme que ela tem que é a natureza. Existem projetos de escalonamento de altura, mas é algo que está longe das discussões nesse momento.

IL – E a saúde, como está? Ela é um problema para o município?

EC – A saúde em Ubatuba sempre será um desafio. O Governo Estadual precisa investir num hospital regional em Caraguatatuba. Tem que ser lá por conta da geografia, no máximo em São Sebastião perto da divida com Caraguá. Já para o nosso cidadão fizemos o máximo. A Santa Casa, que é um problema nosso, assumimos e mudamos radicalmente o sistema. Hoje ela é um hospital. São 14 mil atendimentos mês. Muita gente que fala mal da saúde de Ubatuba é porque não conhece a saúde pública em grandes centros. Aqui ela está muito mais satisfatória do que o nível de Brasil. Nós precisamos ter condições de dar um bom primeiro atendimento e socorro. A estrutura física e equipamentos são inegáveis que avançaram.

IL – O senhor considera que o turismo seja o ´carro chefe’ da cidade?

EC – O Litoral Norte como um todo tem esse potencial, mas quem vive do turismo por aqui é Ubatuba e Ilhabela. Sem fazer provocação, mas também são as cidades mais belas nesse segmento. A questão dos navios de Cruzeiro foi algo bem positivo para o turismo, ainda mais com uma parceria com nossa vizinha Ilhabela. Não dá para esquecer isso nunca. Já teve momentos em que aqui nós tínhamos dois navios e lá nenhum. Ilhabela é muito boa no que faz e nos ensina nesse quesito. Mas é uma honra ter esses navios aqui trazendo recursos, era algo que queríamos há anos.

IL – Como o senhor avalia o contato com os demais prefeitos da região?

EC – Os prefeitos da região precisam encarar o Litoral Norte como uma região só e trabalharem juntos em várias causas. Já tem acontecido um pouco disso, mas ainda não como eu gostaria. Ainda faltam coisas para o que o entrosamento seja maior. Eu espero que esse relacionamento se afine mais. Se uma cidade mostrar que se desenvolveu mais do que a outra, ela vai acabar puxando os problemas dessa outra para si, por isso que precisa haver mais união entre os prefeitos.

IL – Como está a situação do lixo em Ubatuba? O senhor acredita numa solução regional?

EC – Recentemente uma carreta que levava o lixo capotou. Ninguém me convence de que se nós fizermos todos os estudos e licenciamento, que alguma coisa pode virar realidade. Acho que não tem que ficar nessa de colocar o lixo nessa cidade ou na outra. Eu aceito o lixo das outras cidades aqui se tivermos uma solução para o lixo de Ubatuba. No mandato passado, o governo do estado ofereceu R$ 2,5 milhões para podermos resolver a questão do lixo e iniciarmos um estudo. Mas já se foi mais de um mandato e nada avançou. É um problema nosso que precisa ser resolvido por nós.

IL – E os setores da educação e ensino profissionalizante, qual a atenção data a eles?

EC – Nós tínhamos o Senai em Taubaté e conseguimos que ele viesse para Ubatuba. Também conseguimos a implantação de um restaurante escola, que em breve deverá estar funcionando. Também teremos em pouco tempo outras alternativas para profissionalizar os jovens na mão de obra, ligada ao turismo. Estamos fazendo nosso máximo para capacitar nossos jovens, para termos bastante mão de obra qualificada. O turismo é um setor que cresce, então estamos voltados para a criação de mão de obra nesse setor. 

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